Em protesto contra o aumento da passagem de ônibus, que começou a vigorar no último dia 6, estudantes foram agredidos no Aterrinho da Praia de Iracema. Guarda Municipal descarta motivação política do episódio
Era a última atração da terça-feira de Carnaval, mas o que deveria ser um encerramento festivo e tranquilo, marcas das comemorações no Aterrinho da Praia de Iracema, deu lugar à violência. No começo do show da cantora Tereza Cristina no local, já na madrugada de terça para quarta-feira, um grupo de estudantes da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (Uece) foi agredido por guardas municipais.
A confusão surgiu do protesto dos estudantes contra o recente reajuste na passagem de ônibus de Fortaleza. No intervalo dos shows, eles levantaram faixa com os dizeres “Contra o aumento da passagem! Passe livre já!”. Segundo os estudantes, guardas municipais tentaram tirar a faixa. Sem sucesso, a investida dos guardas partiu para sprays de pimenta e golpes de tonfas (espécie de cassetete).
Cecília Feitosa, integrante do Diretório Central de Estudantes (DCE) da UFC, era uma das três pessoas que seguravam a faixa na hora do protesto. Segundo ela, cerca de oito guardas chegaram querendo tomar a faixa sem dizer por quê. Por conta da resistência, sobrou “spray” de pimenta para os estudantes e para quem estava por perto. O jornalista Chico Célio Vieira, que tentou apaziguar o confronto, levou golpes de tonfas.
“Foi uma postura agressiva de ferir a dignidade de forma descabida e desproporcional”, avalia Cecília, que conta ter levado spray nos olhos e nas costas. Segundo ela, até o fim desta semana o DCE da UFC deve entrar com representação no Ministério Público Estadual para apurar o fato. A Câmara Municipal também deve ser acionada.
O estudante de Ciências Socias Rogério Santiago conta que os guardas municipais alegavam estar cumprindo ordens e atesta que não houve diálogo antes do uso dos sprays. “Quando começaram a agredir, o pessoal foi pra cima. Os guardas tentaram de novo tirar a faixa, mas recuaram”, detalha.
O jornalista Tiago Coutinho, atingido por spray, diz que tentou conversar com um dos guardas após a agressão, mas ele se recusou a se identificar e disse apenas que a ordem partiu de quem estava no comando da operação.
Versão da Prefeitura
De acordo com Arimá Rocha, diretor-geral da Guarda Municipal de Fortaleza, a faixa estava atrapalhando o campo de visão de uma câmera de videomonitoramento “dome”, de 360°, e por isso houve a retirada.
Baseado no relato do subinspetor George, comandante da operação, Arimá relata que a reação dos manifestantes foi “áspera, arredia” e um guarda chegou a ser agredido com chutes. Segundo Arimá, após a ação, a ordem de retirada da faixa foi suspensa para evitar novos conflitos.
Por quê
ENTENDA A NOTÍCIA
Desde o último domingo, a passagem de ônibus está mais cara: R$2 a inteira e R$1 a meia. Para os estudantes, o aumento veio em período estratégico. Já a Prefeitura comemora uma das tarifas mais baratas do País.
DETALHES
A faixa contra o aumento da passagem de ônibus foi levantada no sábado e na terça-feira no intervalo dos shows do Aterrinho da Praia de Iracema. Além do protesto, a faixa convocava os estudantes para manifestação a ser realizado no dia 17 deste mês em frente ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), antigo Cefet, na avenida 13 de Maio.
Em repúdio à ação da Guarda Municipal, o DCE lançou nota na tarde de ontem destacando que a manifestação foi “completamente pacífica”. De acordo com Arimá Rocha, 65 sindicâncias foram abertas ano passado contra guardas municipais. Em caso de conduta irregular, o servidor está sujeito a três penalidades: advertência, suspensão de até 90 dias ou expulsão.
Dezesseis câmeras faziam videomonitoramento do Carnaval do Aterrinho na Praia de Iracema.
Thiago Mendes
thiagomendes@opovo.com.br